ANO MISSIONÁRIO



Nossa Congregação tem como objetivo durante este ano de 2008 refletir sobre o tema ‘Missão’, conforme o projeto para o Triênio.
Já temos em mãos o Documento de Aparecida que veio pra dar um novo impulso à Igreja da America Latina. Sem dúvida iluminará a caminhada da Igreja.
Gostaria de partilhar um pouco sobre o Documento do Papa João Paulo II ‘Redemptoris Missio’. Este documento está dentro de um contexto novo de Igreja: uma Igreja pós conciliar, um mundo novo com suas profundas transformações sociais, políticas e religiosas.
O capitulo IV tem como título: os imensos horizontes da missão ‘ad gentes’. Explica o significado dessa expressão dizendo que os destinatários “‘são os povos ou grupos que ainda não crêem em Cristo’, ‘aqueles que estão longe de Cristo’, entre os quais a Igreja ‘não está ainda radicada’, e cuja cultura ainda não foi influenciada pelo Evangelho.”
Sem dúvida estes ‘lugares’ no mundo são muitos.
Mas surge a pergunta: teria ainda sentido quando devemos respeitar as culturas, acolher o diferente, quando a Igreja fala de diálogo inter-religioso, teria sentido o anúncio do evangelho? Não seria uma introdução de algo que não diz respeito ao que é próprio da cultura de um povo específico?
Poderíamos concluir daí o desproposito da missão ad gentes.
No entanto, é preciso unir o estudo da Missiologia com o da Eclesiologia. Existe um mandato específico de Jesus à comunidade (Igreja) para anunciar a todos os povos o Reino. Jesus Cristo é o Único Salvador do homem. Este só pode encontrar o sentido da existência através do Mistério de Jesus Cristo.
A Igreja está a serviço do Reino por ter sido a primeira beneficiária. E Cristo desenvolve sua salvação através da Igreja. É ela instrumento (sacramento) de Salvação.
Mas o Papa questiona-se, quando fala dos povos de longa tradição cristã que passam por profundas transformações e hoje precisam receber uma ‘nova-evangelização’.
O mundo nestes últimos anos tem se desenvolvido muito. Mudanças rápidas que trouxeram benefícios para a humanidade como também profundos questionamentos. Mudanças na composição da sociedade com êxodo rural, que desenraizaram muitas famílias de suas comunidades. A globalização com seus benefícios e malefícios. A intervenção do homem na natureza já faz sentir seus efeitos. Novas tendências no campo religioso fazendo surgir um trânsito, nomadismo entre ‘igrejas’, significando uma sede de Deus. A falta de ética na política cria um descrédito da população pelo que é público. De fato, vivemos o fenômeno do individualismo diante da sociedade e do indiferentismo diante de valores que deveriam sustentar o ser humano.
Esta sociedade, feita de cristãos é sem dúvida um campo enorme de missão. Uma nova evangelização é urgente, com novos métodos, novo ardor, novas estruturas, etc. Tudo para ir ao encontro do outro e anunciar a alegria de crer em Jesus Cristo.
A cidade é o lugar onde se criam, se geram novos costumes e valores que influenciam toda a população. Evangelizar esse lugar é essencial.
Se a missão ‘ad gentes’, entendida no sentido tradicional, é um grande desafio, o é também a ‘nova-evangelização’. Uma não é mais do que a outra. A igreja abraça ambas, precisa com urgência das duas.
Um ponto importante: não se faz missão sem organização. Não se faz missão a ‘toque de caixa’. Os Evangelhos narram como os apóstolos se organizavam para evangelizar. O sentar e programar não é contrário ao sopro do Espírito Santo. (cf. Mt, 10; Mc, 6,6b-13; Lc,9-1-6;Lc, 10,1-12; At, 13, 51)
Uma história para refletir: “Um grupo de religiosos foi enviado para uma cidade no norte do Estado da Bahia. Estabelecem-se neste lugar, residindo na casa paroquial, assumindo assim uma das Paróquias da cidade. Esta comunidade estava já há anos desassistida pela Igreja local, pela falta de sacerdotes, mas a chegada deles (dos religiosos) traz novo ânimo aos cristãos católicos. O trabalho inicia. A participação na Missa aos poucos aumenta, é preciso assistir os casamentos, realizar os batizados. Aos poucos vão os religiosos ganhando prestígio na comunidade.”
Um primeiro olhar sobre essa história nos faria bater palmas para esses heróis missionários. Foram bravos por deixarem suas comunidades formadas para se lançarem em terras estranhas com grandes desafios. Ganharão o céu por isso!
Um segundo olhar nos faz perceber que aquela comunidade está dentro de uma ‘cidade’. É uma ‘Paróquia’. Esta estrutura eclesial tem suas implicações. Pertence a uma Diocese com um Bispo. A Diocese tem implicações sobre a Paróquia. Não se pode caminhar isoladamente. Não pode o pároco transformar sua Paróquia numa míni-diocese! É preciso pensar em comunhão.
O texto das Diretrizes Gerais da Ação Evangelizadora da Igreja no Brasil 2008-2010, no Capitulo III, item ‘Renovar a Comunidade’ nos números 156 e 157 nos faz pensar muito de como conduzimos as comunidades que estão em nossas mãos e os grandes desafios que se descortinam à nossa frente!
Sim, a Paróquia é feita de pessoas e não de estruturas, como de Igrejas bem pintadas, salões de festas, móveis e imóveis novos... A evangelização é ação humana, realizada entre pessoas. Então surge a pergunta: ‘Como é feita a evangelização?’
Os métodos são muitos! Mas resumindo em dois, poderia lembrar que existe aquele em que o missionário faz uma missão ‘de cima pra baixo’: “Eu sei tudo e vocês não sabem nada!” Esse é o sistema Europeu. O outro é aquele em que se busca descobrir os valores presentes na comunidade e valorizá-los. Sistema que parte das pessoas.
O primeiro pode ser cansativo e desgastante, mas a ‘vantagem’ é que vai fazer do missionário um ‘taumaturgo’. Será lembrado como um verdadeiro herói. Afinal quem não quer ser um!!!
O segundo exige tempo e mais tempo. Não é trabalho de um ano, ou três anos, mas muito tempo. Permanecer na comunidade para formá-la torna-se questão de responsabilidade, a partir do momento em que é assumida. Abandoná-la à deriva, à própria sorte, sinaliza a ação de missionários (!) despreparados. A vantagem (do que?) é o de criar uma cultura nova. A presença e testemunho dos missionários fortalece a caminhada eclesial. A cidade será fortalecida pelos novos cristãos que encontraram a alegria se seguir a Jesus Cristo, Único Salvador! Isso por terem introduzido um método novo feito de co-responsabilidade, de poder partilhado, de decisões partilhadas...


Frei Ivan Luiz Nava f.m.m.

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