Bispos ameaçados confirmam denúncias
de violação de direitos humanos no Pará
Os três bispos ameaçados de morte no Pará estiveram em Brasília nesta terça-feira, 6, e confirmaram as denúncias de violação dos direitos humanos na região. Dom José Luiz Azcona, da Prelazia do Marajó; dom Flávio Giovenale, da Prelazia de Abaetetuba, e dom Erwin Kräutler, da Prelazia do Xingu, foram, pela manhã, ao Conselho de Defesa dos Direitos da Pessoa Humana (CDDPH) e, à tarde, participaram de uma audiência pública proposta pela Comissão da Amazônia da Câmara dos Deputados. Esteve, ainda, presente o pároco de Anapu, padre José Amaro Lopes de Souza, que também é ameaçado.
Para o deputado federal Zenaldo Coutinho, autor do requerimento para a audiência no Conselho de Direitos Humanos, o objetivo era ouvir os bispos e o procurador geral da república do Pará sobre os caminhos institucionais para a punição aos crimes denunciados. O presidente do Conselho, Percílio de Sousa Lima Neto, deliberou que uma Comissão visitará autoridades do Pará nos dias 19 e 20 de maio e que as propostas dos bispos serão consideradas pela entidade.
Os bispos cobram, entre outras coisas, maior presença do Estado para coibir a violência, apuração rigorosa para saber de onde vêm as ameaças às lideranças, punição exemplar para os criminosos e segurança para os ameaçados. “Somos mais de 300 pessoas ameaçadas de morte no Pará. Apenas cem têm proteção”, afirma dom Azcona. “Isso indica que sociedade está doente, moribunda e a cidadania não existe”. Ele afirmou que chegam a divulgar o preço pela cabeça de lideranças. “Isso é uma apologia ao crime. É um grito à consciência dos senhores deputados e senadores”, disse ao pedir que os parlamentares busquem solução para a violência no Pará.
Os religiosos denunciam a exploração sexual de crianças e adolescentes e o tráfico de mulheres, além da falta de um plano de desenvolvimento para a região que ouça a população local. Para o representante do Ministério Publico Federal do Pará, Felício de Araújo Pontes Júnior, o conflito na região é conseqüência da tensão entre os dois modelos de desenvolvimentos. “Um modelo é predatório, que é o modo tradicional de cultura da terra: agricultura, pecuária, monocultura, e o modelo sócio-ambiental de desenvolvimento”, explica. De acordo com Pontes, por causa disso, há uma explosão demográfica sem possibilidade de planejamento.
Acompanhando os bispos, o vice-presidente da CNBB, dom Luís Soares Vieira, ratificou o apoio da entidade aos bispos e fez coro às denúncias apresentadas. “A Amazônia ainda é considerada periferia do Brasil. Se essas ameaças acontecem com os bispos, vocês podem imaginar o que está acontecendo com nosso povo”, ponderou.
Dom Luiz concorda que “há um vazio do Estado” para erradicar com a violência na Amazônia e se disse esperançoso com a audiência. “Espero que a audiência desperte o Congresso e o Brasil para uma ação concreta que diminua a violência contra os pobres e excluídos”.

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