ORIGINAIS E SOBERANOS OU NÃO?

Este relato, seja verídico ou não, demonstra que sem referenciais não há como aprender a falar; relacionar-se e expressar sua fé se não tiver de quem assimilar o que já foi produzido historicamente.
[...] isso sugere não existir o que chamamos de natureza humana independente da cultura. Os homens sem cultura não seriam os selvagens inteligentes de
Lord of the Files, de Golding, atirados à sabedoria cruel dos seus instintos animais; nem seriam eles os bons selvagens do primitivismo iluminista, ou até mesmo, como a antropologia insinua, os macacos intrinsecamente talentosos que, por algum motivo, deixaram de se encontrar. Eles seriam monstruosidades incontroláveis, com muito poucos instintos úteis, menos sentimentos reconhecíveis e nenhum intelecto: verdadeiros casos psiquiátricos. Como nosso sistema nervoso central – e principalmente a maldição e glória que o coroam, o neocórtex – cresceu, em sua maior parte, em interação com a cultura, ele é incapaz de dirigir nosso comportamento ou organizar nossa experiência sem a orientação fornecida por sistemas de símbolos significantes. O que aconteceu na Era Glacial é que fomos obrigados a abandonar a regularidade e a precisão do controle genético detalhado sobre nossa conduta em favor da flexibilidade e adaptabilidade de um controle genético mais generalizado sobre ela, embora não menos real. Para obter a informação adicional necessária no sentido de agir, fomos forçados a depender cada vez mais de fontes culturais – o fundo acumulado de símbolos significantes. Tais símbolos são, portanto, não apenas simples expressões, instrumentalidade ou correlatos de nossa existência biológica, psicológica e social: eles são seus pré-requisitos. Sem os homens certamente não haveria cultura, mas, de forma semelhante e muito significativamente, sem cultura não haveria homens.
Isto não significa que há um determinismo, seja ele geográfico ou cultural, mas não podemos esquecer que sem um processo de interação entre os diferentes seres não há como assimilar as regras de comportamento social. Com base nesta assimilação, há um processo também de recriação, que é a pequena contribuição de cada um no desenvolvimento cultural.
 
 
FONTE: Fundamentos Antropológicos –
Prof. Dr. Antônio Boeing

 

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