O tempo este ser precioso que só descobrimos o seu valor depois de perdido. Como somos tardios em aprender a única lição que realmente importa: viver o tempo presente com intensidade.

Eis um poema de quem tem pouco tempo para desperdiçar.

O VALIOSO TEMPO DOS MADUROS

Contei meus anos e descobri
que terei menos tempo para viver daqui para a frente
do que já vivi até agora.
Tenho muito mais passado do que futuro.
Sinto-me como aquele menino que recebeu uma bacia de cerejas.
As primeiras, ele chupou displicente,
mas percebendo que faltam poucas, rói o caroço.
Já não tenho tempo para lidar com mediocridades.
Não quero estar em reuniões onde desfilam egos inflamados.
Inquieto-me com invejosos
tentando destruir quem eles admiram, cobiçando seus lugares, talentos e sorte.
Já não tenho tempo para conversas intermináveis,
para discutir assuntos inúteis sobre vidas alheias
que nem fazem parte da minha.
Já não tenho tempo para administrar melindres de pessoas,
que apesar da idade cronológica, são imaturos.
Detesto fazer acareação de desafetos
que brigaram pelo majestoso cargo de secretário-geral do coral.
“As pessoas não debatem conteúdos, apenas os rótulos”.
Meu tempo tornou-se escasso para debater rótulos,
quero a essencial, minha alma tem pressa...
Sem muitas cerejas na bacia,
quero viver ao lado de gente humana, muito humana;
que sabe rir de seus tropeços,
não se encanta com triunfos,
não se considera eleita antes da hora,
não foge de sua mortalidade,
caminha perto de coisas e pessoas de verdade,
o essencial faz a vida valer a pena.
E para mim, basta o essencial!

Mario de Andrade

Provérbio chines:  
“Há quatro coisas que não voltam atrás:
1) a pedra depois de atirada,
2) o tempo depois de passado,
3) a palavra depois de proferida,
4) a ocasião depois de perdida.”

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